Dizem que cada vez mais, apesar do progresso, as pessoas têm menos tempo livre, menos tempo para si, menos tempo para o outro. Dizem que cada vez mais as crianças vêem mais televisão e que cada vez mais os conteúdos são pornográficos, violentos e facciosos na mensagem subliminar que transmitem. Que cada vez mais as crianças estabelecem relações horizontais em detrimento das verticais (inter-geracionais) e que isso cada vez mais bestializa o comportamento social. Cada vez mais se come pior, apesar de cada vez mais se saber mais sobre nutrição. Que cada vez mais, enquanto sociedade, valorizamos o objecto e objectuamos* as relações, os ideais, o estar e o ser. Que cada vez mais as pessoas se encontram deslocadas a fazer o que não querem e que não têm propensão para fazer, mas que por uma qualquer tirania colectiva as obrigamos a fazer. Que cada vez mais cada indivíduo fica cada vez mais longe de um espaço natural a que cada vez mais há mais falta de tempo para visitar. Que cada vez mais se pune o sintoma deixando cada vez mais impune a origem do problema. Que cada vez mais se contesta publicamente com uma cada vez maior falta de discernimento. Que cada vez mais vivemos mais longamente de forma cada vez mais alienada.
Assim violentadas, quem somos nós para condenar a violência de uma criança contra a violência do mundo ? Um aluno que violenta um professor deve ir a julgamento. Com ele deve ser julgada toda a civilização que criámos, sob o risco de se tornar evidente que a justiça afinal não é cega, é conivente. A barbárie em que se tornou a civilização não pode ser critério de nivelamento para os julgamentos que se façam, sejam estes feitos pelo sistema ou feitos por indivíduos.
* objectuar, por necessidade de se estabelecer uma diferenciação em relação a objectivar. Este último refere-se a um acto mental de objectivação, ou seja, ao acto de tornar mais nítido o discernimento de algo. Objectuar pretende expressar o acto de transformação da realidade em objecto, isto é, em coisa per si, desenraízada de contexto espacial e temporal, desprovido de conteúdo que não seja mesurável i.e. quantificável e transmissível (mercantilizável). A objectuação do sentimento é aquilo que se verifica todos os dias quando alguém recebe "paternidade" sob a forma de prendas. Objectuar destingue-se de coisificar, na medida em que coisificar se refere à redução de algo a si mesmo, de acordo com Heidegger. Objectuar aproxima-se mais a uma projecção ou a um fetichismo, se bem que o primeiro é demasiado generalista e o segundo é demasiado sexualizado.
Assim violentadas, quem somos nós para condenar a violência de uma criança contra a violência do mundo ? Um aluno que violenta um professor deve ir a julgamento. Com ele deve ser julgada toda a civilização que criámos, sob o risco de se tornar evidente que a justiça afinal não é cega, é conivente. A barbárie em que se tornou a civilização não pode ser critério de nivelamento para os julgamentos que se façam, sejam estes feitos pelo sistema ou feitos por indivíduos.
* objectuar, por necessidade de se estabelecer uma diferenciação em relação a objectivar. Este último refere-se a um acto mental de objectivação, ou seja, ao acto de tornar mais nítido o discernimento de algo. Objectuar pretende expressar o acto de transformação da realidade em objecto, isto é, em coisa per si, desenraízada de contexto espacial e temporal, desprovido de conteúdo que não seja mesurável i.e. quantificável e transmissível (mercantilizável). A objectuação do sentimento é aquilo que se verifica todos os dias quando alguém recebe "paternidade" sob a forma de prendas. Objectuar destingue-se de coisificar, na medida em que coisificar se refere à redução de algo a si mesmo, de acordo com Heidegger. Objectuar aproxima-se mais a uma projecção ou a um fetichismo, se bem que o primeiro é demasiado generalista e o segundo é demasiado sexualizado.
que visão tão negativa da Humanidade. para onde caminhamos, então?
Da humanidade, não. Da civilização, que tem como principal defeito precisamente a falta de humanidade. E caminhamos para onde a humanidade quiser, desde que a haja.
subscrevo a reflexão, quase na totalidade
(por aqui os alunos andam a agredir profs, mas é só um pormenor, um entretém jornalistico... ou não)
.
(é uma pouca vergonha)
caminhamos para a nossa aniquilição. de acordo com o quadro traçado. é triste que me reveja neste quadro.
mas sinto-me preso a esta civilização sem humanidade, sem ferramentas para alterar o estado de coisas. para lá caminhamos. por enquanto vivemos uma não vida. objectuada.
I wish I was BLONDE!,
A esperança é a última a morrer!
(adoro quando corroboras) :-D
E eu adoro quando tu tens estes discursos mega inteligentes. :D
Quanto à esperança diz que morre 'ca gente'...
I wish I was BLONDE!,
ora... :-)